Celebramos o terceiro domingo do Advento, o domingo da alegria, e a tônica da celebração é justamente a nossa alegria porque a vinda do Salvador está próxima. Também hoje, 12 de dezembro, é a festa de N. Sra. de Guadalupe, padroeira do povo Latino-Americano. A imagem de N. Sra. de Guadalupe é cheia de cores que nos lembra o momento que o indígena Juan Diego se apresentou diante do bispo na cidade de México. João, a pedido de Nossa Senhora, tinha apanhado flores no meio do deserto e quando ele abriu seu manto diante do bispo, as flores caíram no chão e a imagem de Nossa Senhora se revelou.
A imagem de N. Sra. de Guadalupe é uma das muitas imagens que temos de Nossa Senhora. Celebramos esta semana que passou, a festa de N. Sra. da Imaculada Conceição e lembramos outras imagens: N. Sra. do Livramento, do Perpétuo Socorro e tantas outras. Sabemos que uma imagem é uma representação de algo, mas uma imagem não é só uma representação, parte do real. Os nossos olhos projetam uma imagem para o nosso cérebro, mas não é só uma imagem que enxergamos, parte do mundo real. A imagem é uma representação daquilo que é verdadeiro. Inclusive, se chegamos perto de uma pessoa para olhar nos seus olhos, vamos ver dentro dos olhos a imagem que a pessoa está enxergando. Dizem os estudiosos que dentro dos olhos da imagem de N. Sra. de Guadalupe está a imagem da cena que aconteceu quando Juan Diego abriu o manto, e nesta imagem, aparecem as pessoas que estavam presentes. Isto significa que N. Sra. olhava para seu povo com carinho, especialmente os sofridos. O sofrimento, a pobreza e a doença eram a realidade que Maria olhava, era a imagem dos seus olhos.
O profeta Sofonias também enxergava a imagem do seu povo e o que ele via era deserto, solidão, ausência de flores, de vida, pois o povo vivia o maior sofrimento. Era o tempo do exílio na Babilônia que era pior que a escravidão sofrida no Egito. Diante desta situação, o profeta transmite uma mensagem de esperança e alegria. Esta esperança tem seu fundamento que agora está surgindo uma nova liderança e o próprio Deus se torna o rei de Israel. Foi um pequeno resto do povo de Israel que reconheceu que Deus está presente no meio deles como valente guerreiro que salva. É este Deus que não deixa desanimar, pois propõe uma novidade que é conseguir a verdadeira liberdade e construir o Reino. Por isso, é preciso exultar de alegria pois é justamente esta esperança que leva o povo a festejar. Deus propõe a salvação no meio de um deserto sem vida, razão de alegria para o povo.
João Batista apareceu no deserto e olhava para a realidade de seu povo. Via a doença, a violência do Império Romano, a dureza e a opressão dos fariseus e escribas, o sofrimento e a ausência de esperança, de flores, do anúncio da Boa Nova. O povo ia à procura de João no deserto porque desejava algo novo que era a alegria de encontrar o verdadeiro Deus que leva este mesmo povo, através do deserto, à terra prometida. É a partir deste desejo que vem a pergunta do povo: “o que devemos fazer?”.
Primeiramente é a multidão dos pobres que faz a pergunta. A maioria sendo pobre só possuía uma única túnica. Para este povo, João disse: “Quem tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem; e quem tiver comida faça o mesmo!” (Lc 3, 11). Em outras palavras, para as poucas pessoas que possuíam mais, isto é, duas túnicas, era necessário dividir. É a partilha que provoca a mudança nas pessoas, cria uma novidade que é justamente a alegria da partilha.
Segundo, são os cobradores de impostos que também fazem a pergunta. Eles eram odiados pelo povo, pois, como instrumentos nas mãos do Império Romano, exploravam o povo, tirando até o último centavo. A novidade de João: “Não cobreis mais do que foi estabelecido” (Lc 3, 13). A mensagem é clara, não deve mais praticar a injustiça. Com certeza, esta mudança de prática traz uma grande alegria, pois estabelece a justiça e a igualdade.
Terceiro, são os soldados que perguntam. Eles eram corruptos e abusavam do poder para tirar vantagens. Para eles, João disse: “Não tomeis a força dinheiro de ninguém nem façais acusações falsas”. É preciso acabar com os abusos e a corrupção e não usar a violência. É a grande novidade do respeito pela dignidade da pessoa, da não violência e da justiça que traz a alegria.
Mas João não somente fala que a alegria consiste na partilha, na justiça, na não violência e no respeito, mas aponta para a grande novidade que é Jesus. É ele que vai limpar a eira e batizará com o Espírito Santo. É esta novidade de Jesus que nos traz alegria e esperança, que no meio do deserto, as flores de vida nova vão florir.
A imagem nos olhos de N. Sra. da Guadalupe é dos pobres e sofredores que viram as flores que caíram do manto de Juan Diego e sentiram a grande alegria da certeza que Deus caminha com seu povo. Foi a mesma alegria do povo no tempo de Sofonias e de João que pregaram a transformação do deserto em flores de alegria e esperança. Não é uma alegria de apenas um sentimento, mas a alegria de sentir que é Jesus que vem trazer a salvação, salvação que é o cumprimento das promessas de Deus, promessas realizadas na vivência dos valores do Reino.
Por: Frei Gregório Joeright, OFM
Arte: Frei Fábio Vasconcelos, OFM