Há um ditado que diz: “o que os olhos não veem, o coração não sente!”. Significa que aquilo que está fora da nossa vista, nós não sentimos necessidade de possuir e nem desejamos, mas, pelo contrário, aquilo que enxergamos vamos sentir a necessidade de possuir, vamos desejar. Com certeza a mídia e a propaganda trabalham com esta noção, querem apresentar uma boa imagem para que as pessoas comecem a sentir necessidade, desejo e assim compram. Chamamos isto de estética e é muito presente em nossa sociedade. O que vale mais é a aparência e não aquilo que realmente é.
Isto também acontece entre nós como pessoas, pois hoje em dia, há uma grande preocupação com a beleza do corpo e muito pouco com a beleza da pessoa. Em outras palavras, dá-se mais valor com aquilo que aparece por fora e muito pouco com os valores que se vive. Até a nossa comunidade pode cair nesta tentação quando a preocupação maior está nas aparências e na estética. Por exemplo, celebrações que parece mais como show e esquecem o fundamental, que na Eucaristia celebramos a morte e ressurreição de Jesus. Não podemos esquecer que uma comunidade que celebra e vive o mistério de Jesus é uma comunidade servidora que põe em prática a proposta de Jesus.
Hoje, na primeira leitura, Josué pergunta ao povo: “Se vos parece mal servir ao Senhor, escolhei hoje a quem quereis servir: se aos deuses a quem vossos pais serviram na Mesopotâmia… Quanto a mim e à minha família, nós serviremos ao Senhor” (Js 24, 15). Estes deuses do passado são os deuses estranhos e falsos com suas imagens e aparências. Pelo contrário, o Deus que Josué quer servir é o Deus verdadeiro que libertou o povo do Egito, da terra da escravidão. Em outras palavras, Josué compreendeu que estes falsos deuses e ídolos enganam pelas aparências e ele escolheu servir ao único e verdadeiro Deus. Acreditar nos ídolos é viver uma falsa religião, isto é, uma fé simplesmente em vista de uma troca de favores. É uma falsa imagem de Deus baseada na teologia da prosperidade que prega uma religião onde a oferta é feita para receber de volta a benção de Deus. Por causa disto, pode se criar uma falsa imagem de Deus a partir dos próprios pensamento e interesses, pois em vez de acreditar no único e verdadeiro Deus, se torna mais conveniente ser enganado pelas aparências. Por isso, Josué fala que é preciso abandonar os falsos deuses e servir somente o Senhor que libertou o povo da casa da escravidão e que indicou o caminho rumo a liberdade em visto do projeto de justiça e fraternidade.
Este caminho da fé exige compromisso. Muitos dos seguidores de Jesus queriam um sinal, um milagre de Jesus, uma religião de estética e de aparência. Jesus disse que ele é o “pão descido do céu” que dá a vida pela humanidade e que quem come deste pão também se compromete em doar a vida em serviço dos outros. Em outras palavras, quem come deste pão tem que assimilar Jesus e que sua palavra e sua vida fazem parte da vida da pessoa que o come. Neste sentido, a religião não pode ser simplesmente uma beleza estética ou uma imagem, mas preciso ser motivação de servir, doar a vida em prol do projeto de transformação onde existe vida digna e justiça para todos.
Para muitos viver este tipo de fé é difícil de aceitar, pois disseram: “Esta palavra é dura. Quem consegue escutá-la?” (Jo. 6, 60). Mas, é Pedro que compreendeu e acreditou na proposta de Jesus: “Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o santo de Deus” (Jo 6, 69). Então, quem come deste pão e bebe deste cálice se compromete não com uma falsa religião de promessas, de estética, de troca de favores, mas com o serviço em prol da comunidade e da vida.
Hoje em dia, nós católicos devemos lembrar que ser cristão é uma decisão, uma escolha para os caminhos da nossa vida. Por isso, é bom perguntar que tipo de cristão queremos ser ou religião queremos viver. Muitos podem inventar uma imagem de Jesus que não corresponde à realidade e viver uma religião que simplesmente atende aos interesses pessoais. Quem escolhe o Cristo como o “pão descido do céu” precisa ser educado no pensamento de Jesus e escolher amar como ele mesmo amou. Muitos preferem uma religião de estética e de troca de favores onde não existe compromisso e nem exigência. Por isso, queremos conhecer Jesus, sua palavra e sua vida para que possamos ser cristãos autênticos no mundo. É este o verdadeiro desafio de todos nós como seguidores e seguidoras de Cristo, que sejamos sal da terra e luz do mundo.
Viver a fé e a verdadeira religião é fazer a opção de nos comprometer com o pão da vida que dá a vida pela humanidade para que “na instabilidade deste mundo, fixemos os nossos corações onde se encontram as verdadeiras alegrias”.
Frei Gregório Joeright, OFM