Vocação: Graça e Missão na Amazônia

Foto: Arquivo Custodial

Em sua mensagem para o 60º dia mundial de oração pelas vocações, o Papa Francisco afirma que “o dom da vocação é como uma semente divina que germina no terreno da nossa vida, abre-nos a Deus e abre-nos aos outros para partilhar com eles o tesouro encontrado”.

Neste ano vocacional, em que a Igreja católica no Brasil nos motiva a refletir o tema “Vocação: Graça e Missão”, é fundamental que pensemos esta temática dentro de um contexto territorial e cultural bastante singular como é o caso da Amazônia. Viver nossa vocação na Amazônia significa em primeiro lugar reconhecê-la como um dom gratuito, um chamado a respeitar a riqueza cultural e ecológica da região.

Neste sentido, é importante que como discípulos missionários de Jesus Cristo, estejamos dispostos a ter a humildade de nos percebermos não como aquele que chega para ensinar, mas sim como aquele que chega para ouvir, compartilhar e aprender com sabedoria e tradição dos povos que habitam esse espaço sagrado que é a nossa querida Amazônia. Povos que há séculos, vivem em harmonia com a natureza. Verdadeiros guardiões da casa comum.

Foto: Arquivo Custodial

Viver nossa vocação na Amazônia, seja como um ministro ordenado ou qualquer outro ministério leigo, necessariamente passa antes de tudo, pela escuta atenciosa e respeitosa do modo de vida das comunidades tradicionais e sua relação com a natureza, como por exemplo, os indígenas, os ribeirinhos e os quilombolas. É importante ainda, que tenhamos um olhar sensível e um coração generoso disposto a perceber essas dimensões e valores que são inegáveis. Para que isso aconteça, é preciso decolonizar a nós mesmos, purificar nossos pensamentos e superar nossos preconceitos em relação a Amazônia. Somente assim poderemos de fato a exemplo dos discípulos de Emaús nos colocar a caminho, pelos rios e estradas que cortam a região para anunciar a alegria que brota do encontro com o ressuscitado.

A Amazônia é um terreno fértil, um lugar onde a semente do Evangelho foi lançada por homens e mulheres movidos por um profundo ardor missionário. Essa semente brotou no coração das pessoas e faz crescer uma Igreja particular formada por comunidades que se caracterizam principalmente pelo espírito de sinodalidade e pelo protagonismo dos leigos e leigas. De modo particular, destaca-se o papel das mulheres nas milhares de comunidades espalhada pela Amazônia. Na sua grande maioria são ela que coordenam as comunidades eclesiais de base, a catequese e os círculos bíblicos. Através da experiência do encontro com a palavra de Deus, essas comunidades são fortalecidas por uma espiritualidade baseada no mistério da encarnação. Isso porque Jesus, o Filho de Deus que mesmo sendo de condição divina participou de nossa humanidade (Fl 2, 6-7).

Assumir nossa vocação e nossa missão de cristãos batizados na Amazônia implica antes de tudo abraçar uma Igreja que é servidora, é missionaria, é comunhão. Uma Igreja em saída, que se descobre, ela toda, como comunidade povo de Deus, vocacionada e chamada ao anúncio da Boa Nova e a construção do Reino de Deus. Uma Igreja com rostos amazônicos.

Foto: Arquivo Custodial

Cristo continua apontando para a Amazônia. Ele nos mostra uma Igreja dinâmica e cheia de vida que tem muito a ensinar e compartilhar com a Igreja presente no mundo todo. Um lugar de “rica e profunda religiosidade popular na qual aparece a alma dos povos” um tesouro da Igreja Católica, que reflete uma sede de Deus que somente os pobres e simples podem conhecer. Neste sentido, como Igreja, somos chamados a fortalecer o protagonismo dos próprios povos. Precisamos de uma espiritualidade intercultural que nos ajude a interagir com a diversidade dos povos e suas tradições. Devemos somar forças para cuidarmos juntos de nossa Casa Comum.

Que Deus através do seu Espírito Santo de amor possa fazer arder nossos corações e nos ajude a viver nossa vocação enquanto graça e dom gratuito de Deus, dando a cada um de nós, a disposição e o ardor missionário necessários para colocarmos nossos pés a caminho para sem medo de anunciarmos a alegria que brota do encontro com o ressuscitado.

Por: Frei Vagner Sena, OFM

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