Frei Canísio, OFM: 1º Monte alegrense a tornar-se presbítero da Igreja Católica

Antônio Henrique de Lima, era o seu nome de batismo. Nasceu no dia 8 de março de 1920, na antiga Rua da Palha, atual Avenida Dr. Lauro Sodré, bairro Centro, na cidade de Monte Alegre, às margens do Rio Gurupatuba, tributário do caudaloso Rio Amazonas. Seu pai, Antônio Henrique de Lima, era caixeiro na casa comercial de José Antônio Pinheiro, na cidade Baixa e sua mãe Ester Nunes de Lima, era costureira de roupas masculinas e dona de casa. Eram 13 irmãos, a seguir com o respectivo ano de nascimento, Raimunda (1916), Juvenal (1918), Antônio (1920), José (1922), Maria (1924), Emílio (1926), Emiliano (1928), Marina (1930), Joaquim (1931), Lourival (1934), Francisca (1935), Mário (1939) e Raimunda (1942). Raimunda e Juvenal, morreram no balatal do alto Rio Maicuru, onde trabalhavam como balateiros. Na infância, Frei Canísio, como todos de sua geração, fez muitas amizades, brincou e se divertiu nas ruas arenosas de sua cidade natal. Fez o curso primário na Escola Imaculada Conceição, instituição de ensino fundada por Dom Amando Bahlmann e Madre Imaculada, no ano de seu nascimento, instituição esta, regida pelas Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus (SMIC). Serviu ainda como acolito nas celebrações dominicais da Igreja matriz de São Francisco e foi membro ativo da Confraria dos Aluizianos, uma associação religiosa infanto-juvenil que tinha como patrono, São Luiz Gonzaga. Esta associação religiosa, deu origem ao Clube Esportivo e Social São Luiz, que por muitos anos funcionou em uma sede própria na cidade baixa. Ainda menino decidiu seguir a vida religiosa. Nesse tempo a então Prelazia de Santarém, onde a Igreja de Monte Alegre estava inserida, estava sob a responsabilidade dos Frades Franciscanos da Provincia de Santo Antônio do Brasil, e foi para esta ordem religiosa que o jovem “Antônio”, decidiu entrar. Então nosso jovem “pinta cuia”, viajou para João Pessoa (PB), onde concluiu o curso ginasial (científico), posteriormente seguiu para Olinda (PE) e Salvador (BA), onde estudou os cursos superiores de Filosofia e Teologia, respectivamente, inerentes à sua formação sacerdotal. Sua vestição religiosa se deu em 16 de janeiro de 1944, começando assim o seu noviciado, recebendo o hábito franciscano, oportunidade em que trocou o nome de Antônio, por “Frei Canísio”. A profissão temporária a fez no dia 17 de janeiro de 1945 e a profissão perpetua fez no dia 21 de fevereiro de 1948. Finalmente, a ordenação sacerdotal de Frei Canísio se deu no dia 17 de dezembro de 1949, no Convento Franciscano de Salvador (BA). O bispo que impôs as mãos para ordenar Frei Canísio, foi Dom Álvaro Augusto da Silva, Arcebispo de São Salvador da Bahia e Primaz do Brasil.

Assim, depois de concluído todo o seu processo de formação e de ordenação sacerdotal, em que se consumiram 13 anos ininterruptos, finalmente, Frei Canísio, prepara-se então, para retornar a Monte Alegre, sua terra natal, onde rezará sua primeira missa. Tiramos alguns trechos de uma longa e bonita crônica que está preservada por sua ordem religiosa, sobre a recepção e primeira missa rezada pelo neo-sacerdote em Monte Alegre, que aconteceu em 6 de janeiro de 1950.  A alegria e o entusiasmo de Frei Canísio eram imensos, assim como de todo o povo da pequenina e pacata Monte Alegre, da primeira metade do século XX. A cidade pinta cuia, se preparou festiva e enormemente para receber o seu filho mais ilustre, Frei Canísio, era o primeiro filho desta terra a tornar-se padre. As ruas estavam enfeitadas com palmeiras e bandeirinhas e grande massa de fiéis vindas do interior do município e de outras cidades da região e vários confrades seus acorriam para participar dos festejos em homenagem ao grande filho da terra pinta cuia.

A chegada triunfal de Frei Canísio a Monte Alegre, ocorreu no dia 5 de janeiro de 1950. As 5:30 da tarde se se ouviu o estrugir de inúmeros foguetes e bombas. É que se aproximava do porto da cidade o motor São Francisco, que conduzindo o sacerdote pinta cuia. Frei Canísio desembarcou no trapiche municipal entre prolongadas salvas de palmas e vivas do povo. Apesar da chuva, a população de Monte Alegre em peso acorrera ao local da recepção. Foi imensa a satisfação de todos; nunca se ouviu tanto estrondo de fogos com o naquela tarde. Dr. Edward Cattete Pinheiro, prefeito municipal, saudou em belo discurso a chegada do filho mais ilustre de Monte Alegre. A maior alegria foi da mãe de Frei Canísio em poder abraçar o filho padre depois de uma ausência de 13 anos. Todos os irmãos de Frei Canísio o abraçaram enormemente. Um irmão e uma irmã nunca o tinham visto, pois, nasceram depois de sua partida para o seminário. Só o pai não teve a felicidade de ver o filho padre, pois faleceu dois anos antes da volta do filho. As festas alusivas a ordenação de Frei Canísio seguiu até o dia 6 com recepção no convento franciscano, e cantou sua primeira missa na igreja matriz de São Francisco, era a época da missa tridentina, em que o padre celebrava de frente para o sacrário, e se voltando ao povo para a homilia. Frei Canísio fez então um sermão vibrante e eloquente. Depois da missa teve a cerimônia do beija-mão que quase não teve fim, esta tradição acho que hoje não mais existe na Igreja Católica. Ainda teve seção magna no salão do Colégio da Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus (SMIC), com a presença das associações religiosas, colegas do frei e demais autoridades.

Passado as festas alusivas a sua ordenação em sua terra natal, Frei Canísio retorna ao nordeste, onde desenvolve inteiramente seu apostolado em favor do povo de Deus e da Igreja. Nos dizeres do próprio Frei Canísio, ele trabalhou da praia ao sertão, nos lugares mais longínquos e pobres daquela que é a região mais carentes, em todos os sentidos, entre todas as regiões do Brasil, o Nordeste, mas passou boa parte de sua vida missionária em Campina Grande, que é a segunda maior cidade da Paraíba, ocupando o cargo de Vigário do Convento, tendo sido guardião por um triênio. Frei Canísio se notabilizou bem com o missionário popular. Quando não estava em missões pelo nordeste, ajudava bastante sua paróquia nas celebrações e sobretudo nas confissões. Gostava também de visitar os enfermos, levando o conforto dos sacramentos. Como missionário era muito procurado, comparável ao conhecidíssimo Frei Damião, capuchinho.! Por isso, ausentava-se, muitas vezes de Campina Grande para pregar missões pelos rincões do Nordeste, com outros missionários ou sozinho. Nos meses de setembro e outubro, sempre retornava a Monte Alegre, sua terra natal para pregar na festa do padroeiro São Francisco de Assis, era sempre um convidado de honra da paróquia pinta cuia e era um privilégio para ele, pois era motivo de regozijo e alegria estar entre os seus parentes e conterrâneos, além de que São Francisco também é o fundador e patrono de sua ordem religiosa.

Frei Canísio, era dono de uma voz eloquente e cavernosa, pregava com muita firmeza, alegria e ardor missionário, deixando seus ouvintes atentos e boquiabertos e também tem um detalhe curioso na vida de Frei Canísio, era o médico dos pobres, como era chamado. Nas missões populares ele sempre se interessou em adquirir alguma formula de receitas medicinais. Por isso, pra tudo quanto era doença ele inventava algum remédio caseiro. Frei Canísio, chegou a publicar um livreto só de receitas de remédios caseiros a base de ervas medicinais da região. Esse livro é muito procurado até hoje. Em uma das dependências do convento, fundou a Farmácia de Deus. Era um quarto com vasilhas, garrafas, frascos e folhas de várias ervas. Um armário onde guardava suas garrafadas com as quais aliviou e até curou muitas enfermidades. Testemunhas de curas não faltaram. Frei Canísio atendia todos que o procuravam para pedir algum remédio ou receita, sempre com muita paciência que lhe era característica.

A Câmara Municipal de Campina Grande, no ano de 1996, concedeu a Frei Canísio a Medalha de Honra ao Mérito Municipal, como reconhecimento dos relevantes serviços prestados à comunidade campinense. Frei Canísio sempre procurou viver como Jesus e São Francisco, era pobre, suas indumentárias eram poucas e simples e assim quis viver por toda a sua vida.

Aos 81  anos de idade, Frei Canísio recebeu uma autorização especial  de seu superior provincial Frei Afonso Chumacher, por tempo indeterminado para tratamento de saúde, confiando a senhora Maria Diva Lins, uma eximia e dedicada paroquiana de Monte Alegre e grande amiga do Freizinho, como ela o chama até hoje. Dona Maria Diva hospedou e cuidou de Frei Canísio em sua residência, no bairro Terra Amarela de 2001 até 2015, quando em 1º de fevereiro de 2015, a exemplo de São Francisco, nosso frade pinta cuia retorno à casa do Pai.

A Paróquia de São Francisco, através de seu pároco, Frei Alex Assunção da Silva, OFM, conseguiu uma autorização especial das autoridades municipais e da então Diocese de Santarém para que o primeiro padre nascido em Monte Alegre fosse sepultado ao lado do altar-mor da Igreja Matriz de São Francisco, e assim foi feito.

Paz e Bem.!

Por: João Evangelista Souza da Fonseca

membro fundador do Comitê Frei Canísio, administrador, professor, historiador, memorialista regional.

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